Seca fez com que pontes e imóveis alagados surgissem do fundo do lago.
Moradores lembram histórias da época da construção do reservatório.
A estiagem prolongada que atinge o Sul de Minas desde 2012 trouxe prejuízos, poeira, ar seco, longas áreas de vegetação onde havia água. Mas do fundo do lago, trouxe também parte da história de uma região que viu sua paisagem mudar em 1963. Para trazer o progresso, a construção do reservatório de Furnas 'enterrou' terras, fazendas, casas e até uma cidade. Enterrou histórias. Com a estiagem, essas histórias vêm à tona com a antiga torre da igreja de Guapé (MG) que surgiu do fundo da água. Pontes e antigas terras ‘voltam à vida’ (e até ao uso) em Três Pontas. Andar pelo cenário da seca, que ‘assombra’ os moradores da região há cerca de dois anos, é visitar o passado do Sul de Minas.
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Dona Esmeralda folheia publicações da época da inundação de Guapé por reservatório de Furnas (Foto: Samantha Silva / G1) |
Ao adentrarmos na pequena cidade de Guapé, no Sul de Minas, alguma coisa soa estranha no ar. As largas ruas são incompatíveis com as estreitas vias de cidades sul mineiras com cerca de 100 anos, como Guapé. A Igreja Matriz, no Centro da cidade, foi elevada de um projeto moderno, e em volta da praça principal não há nem sombra de casarões antigos típicos da configuração da maioria das pequenas e antigas cidades da região. Estamos na nova Guapé, aquela construída após o reservatório de Furnas tomar dois terços da antiga. As ruas, lotes, a nova praça e igreja foram planejadas pela equipe de Furnas ........Em uma das 10 casas projetadas para os funcionários de Furnas à época da inundação (hoje reformada e diferente da original), dona Maria Esmeralda Ávila Peres folheia as reportagens antigas que retratavam Guapé dias antes de sua inundação. Com 75 anos, nascida e criada na cidade, a professora aposentada guarda documentos antigos da Guapé que passou a vida, tanto a antiga quanto a nova.
No arquivo de dona Esmeralda, é possível ler a edição de 1963 da extinta revista Manchete, que anunciava: “1.200.000 KW contra o subdesenvolvimento – Furnas: a enchente do progresso”. No decorrer da matéria, uma foto mostra uma mãe e seus dois filhos observando a água tomar conta das paredes de uma residência. A citação acima da foto explica: “A tristeza de alguns é apenas momentânea, pois sua região receberá os benefícios do progresso”.
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Ruínas de antiga Igreja Matriz de Guapé, MG, aparecem com estiagem no Lago de Furnas (Foto: Samantha Silva / G1) |
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Antiga Igreja Matriz da cidade (à esquerda) e igreja construída na nova Guapé (à direita) (Foto: Montagem Arquivo Prefeitura Municipal de Guapé / Samantha Silva - G1) |
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São Francisco marca local onde antiga Igreja Matriz de Guapé ficava (Foto: Samantha Silva / G1) |
“Vieram muitos jornalistas aqui pra cidade ver a situação, porque era uma situação inusitada ‘né’, uma cidade sumir embaixo d’água”, conta dona Esmeralda ao folhear outra matéria, da revista O Cruzeiro, mostrando outra parte da história um pouco mais triste: o desespero dos moradores que perderam quase tudo em alguns dias. A reportagem de José Franco (que chegou a ganhar o Prêmio Esso de Reportagem em 1963) cita o choro, a resistência dos moradores, a incredulidade e até o suicídio.
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Baixo nível do Lago de Furnas fez surgir antiga ponto no Pontalete, em Três Pontas (Foto: Samantha Silva/G1) |
Baixo nível do Lago de Furnas fez surgir antiga ponto no Pontalete, em Três Pontas (Foto: Samantha Silva/G1)“Furnas foi isso aí. Guapé ficou uma cidade morta por muito tempo, de 8 a 10 anos. Muita gente foi embora, pra outras cidades, estados. Alagaram as terras várzeas e a pastagem, só sobrou serra, com muita pedra e cascalho. Bancos na cidade fecharam, faltou dinheiro e o povo passou necessidade. A cidade começou a animar depois que começaram a plantar café no cerrado, e aí a cidade desenvolveu”, conta dona Esmeralda. Hoje, além da agricultura, Guapé aproveita a beleza do lago para o turismo.
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Faixa de terra seca surge no Lago de Furnas no Pontalete, em Três Pontas (Foto: Samantha Silva / G1) |
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