segunda-feira, setembro 15, 2014

CORRUPÇÃO:....Mensagens de telefone ligam diretor da Casa de Detenção a criminosos.


Claudio Barcelos cobrava dinheiro para liberar presos em São Luís.
Diretor de presídio de Pedrinhas era monitorado há três meses, diz polícia.

Uma série de mensagens interceptadas pela Polícia Civil comprovam a ligação entre criminosos e o diretor da Casa de Detenção do Complexo de Pedrinhas, Claudio Henrique Bezerra Barcelos. Nesta segunda-feira (15), ele foi preso preventivamente por suspeitas de receber dinheiro para facilitar fugas e saídas de detentos da unidade prisional.
A Casa de Detenção (Cadet) é uma das sete unidades do Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, que também é formado pelo presídio feminino, Centro de Custódia de Presos de Justiça (CCPJ), Presídios São Luís I e II, Triagem, e Centro de Detenção Provisória (CDP). O Complexo é conhecido internacionalmente pelos problemas de segurança causados por fugas e mortes, e também foi palco de brigas de facções, com presos decapitados. Somente na Casa de Detenção, nos últimos 11 meses, 10 detentos morreram no local e pelo menos 20 ficaram feridos após briga entre facções criminosas.
Segundo a Polícia Civil, o diretor do presídio era investigado há três meses e foi descoberto que ele mantinha um esquema para colocar os presos em liberdade e mantê-los soltos o tempo que eles precisassem. Quanto maior o tempo na rua, maior o preço cobrado.Penitenciária de Pedrinhas, em São Luís (Foto: Divulgação/CNJ)
Ainda de acordo com a Polícia Civil, uma quadrilha de assaltantes chegou a pagar R$ 300 mil para sair da cadeia e ir embora de vez. Imagens do circuito interno de Pedrinhas mostraram a quadrilha inteira indo embora. A autorização para a saída era feita com um documento falso, assinado pelo diretor. Mas para o sistema carcerário, os detentos continuavam presos.
Segundo o delegado que preside o inquérito, André Gossain, Barcelos admitiu ter liberado quatro presos, mas nenhum por dinheiro em troca. "Ele afirma que eram detentos de boa conduta, e que também autorizava saídas temporárias, mas que ficava monitorando os beneficiados. Concidentemente, um dos presos voltava para o presídio quando o diretor era preso. Vamos ouví-lo agora", afirmou o delegado.
Detento prometeu a diretor que voltaria à Casa de
Detenção (Foto: Reprodução/TV Mirante)
Mensagens de telefone trocadas entre o diretor e os fugitivos, interceptadas com autorização da Justiça, revelam uma cumplicidade entre eles. Em uma delas, o diretor pede para o detento retornar à unidade prisional porque haveria uma recontagem dos presos. Ele promete um emprego na portaria para o fugitivo. Em outra mensagem, um preso diz que está na Bolívia e que não pretende mais voltar.
Já em outra mensagem, um preso diz que ‘dá a palavra dele de que vai voltar’. Outra mensagem mostra que um detento pede o número da conta do diretor, e diz que vai ‘mandar uma ideia’, que segundo a polícia quer dizer dinheiro. “Deve haver outros funcionários. A gente tem quase a certeza e vamos chegar a essas outras pessoas que também participavam dessa fraude, e essas pessoas serão responsabilizadas”, afirmou o superintendente de investigações criminais da Polícia Civil, delegado Luís Jorge (veja vídeo acima).
Barcelos respondia pela direção da unidade prisional há oito meses. Nesse período, dois inquéritos foram abertos, também por suspeitas de facilitação em fugas de detentos. Antes de ser diretor da Casa de Detenção foi assessor jurídico do Centro de Detenção Provisória de Pedrinhas (CDP); da Secretaria-adjunta de Justiça; e assessor jurídico da Casa de Detenção.
Após a prisão de Barcelos, a Sejap escolheu um substituto. O novo titular da Casa de Detenção, Pastor Noleto, como é conhecido, era o diretor do Centro de Triagem, também em Pedrinhas. O substituto para a direção da Triagem ainda não está decidido, de acordo com o secretário de Estado de Justiça e Administração Penintenciária (Sejap), Sebastião Uchoa.
 
 nvestigações
Cláudio Barcelos foi preso na manhã desta segunda-feira (15) após policiais cumprirem cumpriram mandados de prisão preventiva e de busca e apreensão em seu escritório e sua residência. As investigações contra o diretor foram iniciadas em junho, quando a Superintendência de Investigações Criminais (Seic) começou a perceber que presos que deveriam prestar depoimentos em audiências não compareciam porque haviam fugido, sem sequer a informação constar no sistema penitenciário. De acordo com o superintendente da Seic, Luís Jorge, as fugas não ocorreram coletivamente.
“A maioria dos detentos que fugiram da Cadet era assaltantes. Começamos a ver que bandidos que não tinham família aqui eram beneficiados com saídas temporárias de datas comemorativas e não retornavam, por exemplo. As fugas normalmente eram pela porta da frente, com alvará falso, ou de outros processos. Percebemos que tinha gente de dentro facilitando, pois era amador demais”, afirmou o superintendente.
As suspeitas ganharam maior sustentação há cerca de 20 dias, quando três homens que assaltaram um carro-forte em Sítio Novo, MA, fugiram. “Eles são de alta periculosidade. Fomos no sistema e vimos que eles estavam ativos, como se ainda estivessem presos. O diretor tomava decisões sem o conhecimento da Vara de Execuções Penais. Dava a sentença dos presos como se fosse o próprio juiz. Temos informações de que outros negociavam passar um fim de semana fora, uma semana fora, e depois voltavam. Ele ligava para os presos avisando para retornar, pois teria recontagem”.
 

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