sexta-feira, junho 01, 2012

PCC impõe toque de recolher em São Paulo

Policiais da Rota na frente de lava-rápido onde seis criminosos foram mortos em confronto com a polícia
Comércios e escolas na zona leste fecham as portas em obediência a uma ordem da facção criminosa Thaís Nunes
thais.nunes@diariosp.com.br
Não existe comprovação oficial, mas para os moradores de Cidade Tiradentes, extremo da Zona Leste, bastou o boca a boca para que todos entendessem o recado. Desde esta quarta-feira, o bairro se rendeu a uma possível imposição do crime organizado para que estabelecimentos comerciais, postos de saúde e escolas baixassem as portas.
O toque de recolher seria uma retaliação à ação da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) na noite de segunda-feira, quando seis pessoas foram mortas em uma suposta troca de tiros na Favela Tiquatira. A PM diz que 14 pessoas estavam reunidas no local para articular o resgate de um preso. Todos os suspeitos teriam relação com o PCC (Primeiro Comando da Capital).
Investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) constatou indícios de que pelo menos um dos suspeitos foi executado na Rodovia Ayrton Senna. O sargento Carlos Aurélio Thomaz Nogueira e os soldados Levi Cosme da Silva e Marcos Aparecido da Silva foram presos por homicídio e tortura.
Entre os mortos estava José Carlos Arlindo Junior, 35 anos, acusado de executar um professor de capoeira na UTI do Hospital Cidade Tiradentes em 2008. Junior era integrante do tribunal do PCC e julgava quem seria punido pela facção, além de ser um dos criminosos mais influentes do bairro.
BOATOS/ Assim que a prisão dos PMs foi anunciada, boatos   sobre ataques iminentes começaram a se espalhar. De acordo com os moradores, o “salve” (recado, na gíria do PCC) foi passado por traficantes em motocicletas.
A cúpula da Secretaria da Segurança Pública nega. “Não há e não haverá toque de recolher em São Paulo”, diz a pasta, que não reforçou o policiamento no bairro, mesmo com a UBS (Unidade Básica de Saúde) e as principais escolas municipais e estaduais de portas fechadas.
A Polícia Civil recebeu denúncia de que criminosos invadiram um ônibus a procura de PMs em Itaquera, mas o caso não foi registrado. Onze pessoas foram conduzidas até o  54º DP (Cidade Tiradentes) e liberadas após averiguação.
Comércios e escolas nos bairros de Guaianases, São Miguel Paulista, Itaquera e Cangaíba também fecharam mais cedo. O secretário da Segurança Pública, Antonio Ferreira Pinto, garante que o risco de atentados orquestrados pelo PCC é zero.
PCC não quer confrontar o Estado, garante especialista
O cientista político Guaracy Mingardi, especialista em segurança pública e crime organizado, garante que o PCC não tem interesse em confrontar o Estado. De olho nos lucros, a facção criminosa não permitiria que lideranças de bairro comprometessem o movimento de todo o partido para vingar a morte de um integrante. “O PCC controla várias cadeias e não ganharia nada com novos ataques”, explica.
Apesar da ameaça ser, até o momento, mera especulação, Mingardi critica a inércia da Segurança Pública.  “Em 90% dos casos não passa de boato. Se a população está insegura, é dever do Estado aumentar o policiamento, colocar uma viatura na porta da escola e garantir que o crime organizado não vai interferir”, analisa.
Mingardi também faz questão de tranquilizar a população. “Em 2006, os alvos eram as forças de segurança, não o cidadão comum. Quem mais matou civis foi a própria polícia.”
O comando do 28º Batalhão, responsável pelo patrulhamento de Cidade Tiradentes, informou que manteve suas atividades dentro da normalidade e a situação era tranquila.
Antonio Ferreira Pinto, secretário da Segurança Pública, analisa o PCC como uma organização criminosa sem expressão, que já teve força no passado, mas atualmente está controlada. “Existe uma glamourização do crime. Os líderes desse grupo estão na cadeia e não oferecem perigo.”

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